A reforma da Previdência social, em tramitação no Congresso Nacional, acendeu o medo nos brasileiros de se aposentar muito velhos ou mesmo de nunca parar de trabalhar para conseguir levar uma vida tranquila financeiramente. Além do receio e da desconfiança em torno das alterações, as discussões sobre as políticas geraram corrida por planos privados de previdência, que, em novembro, quando começou a esquentar o debate, registraram 26% de aumento em relação ao mês anterior, de acordo com levantamento divulgado na semana passada pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). Especialistas reforçam a importância de poupar para constituir uma aposentadoria complementar, apostam em outras formas além da previdência privada e alertam sobre contratações de planos feitas no afogadilho.

O acúmulo registrado em novembro foi de R$ 11,26 bilhões, contra R$ 8,93 bilhões em outubro. Se considerada a captação líquida (diferença entre os aportes e os resgates), esses planos registraram saldo positivo de R$ 6,52 bilhões, um crescimento de 35,85% em comparação a novembro do ano passado, quando o saldo foi de R$ 4,8 bilhões. Em 11 meses, os aportes acumularam R$ 98,17 bilhões, apresentando uma evolução de 19,14% frente ao mesmo período do ano passado, quando somaram R$ 82,40 bilhões.

O planos privados de previdência – constituídos pelas modalidades VGBL e PGBL (veja quadro) – são oferecidos por bancos e seguradoras e não estão vinculados ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). As opções são bastante flexíveis. O cliente faz um aporte inicial e depois contribui com parcelas mensais, segundo o rendimento que pretende ter a longo prazo. Outra opção é resgatar o montante acumulado depois do período acordado. As contribuições podem ser a partir de R$ 35.

Especialista em previdência privada e seguro de vida, a corretora Maria Inês Prazeres se surpreendeu com o aumento na procura por planos privados de aposentadoria. “Ainda é cedo para fazer uma análise com número, mas, em relação aos outros anos, a procura deve ter aumentado seis vezes agora em janeiro. O público também mudou. Tenho recebido consulta até de servidores públicos”, afirma Maria Inês, que considera o aumento um reflexo das discussões em torno das regras adotadas pelo INSS.

A manicure e cabeleireira Viviane Lima, de 32 anos, contratou este mês um plano privado. A decisão foi tomada pela insegurança em torno do futuro da Previdência social. “Não perco a esperança, mas creio que vai dificultar muito para aposentarmos. Não sei se vai ser garantia para o futuro. Quero chegar na velhice com uma vida melhor”, afirma Viviane, que já contribui há mais de 10 anos com o INSS.

Ela já tentou, sem sucesso, fazer da poupança uma reserva para o futuro. “Sempre estou mexendo para pagar conta. Na previdência privada, isso não vai ocorrer. Vou poder contar com esse dinheiro a longo prazo. A gente não sabe o dia de amanhã, tenho dois filhos e penso também nesse dinheiro para pagar a faculdade deles”, diz. A manicure escolheu pagar R$ 100 por mês. “Já pago muita coisa. Esse valor foi o quanto consegui para começar”, ressalta.

O consultor financeiro Erasmo Vieira considera que a contratação de um plano privado de previdência tem que ser bem pensado. “É uma decisão muito importante para ser tomada de repente. É preciso analisar direitinho, se organizar primeiro. A previdência é como um aluguel que você paga para administrarem seu dinheiro e te devolverem no futuro. Mas a pessoa pode, ela mesma, buscar a informação e administrar, mas isso demanda conhecimento e dedicação”, reforça.
Antes de contratar um plano de previdência privada, Vieira recomenda que o interessado pague primeiramente as dívidas, em especial as mais caras, como empréstimos consignados. “Tem gente que faz a previdência, mas começa a entrar no cheque especial todo mês”, critica. Ele também chama a atenção para o valor das taxas. “Quanto mais próxima de 1%, melhor. Fundos que cobram 4% estavam perdendo da poupança”, ressalta.

Aqueles que atravessam turbulências econômicas também devem pensar duas vezes antes de fazer um plano privado. “Quem está desempregado não tem que pensar em previdência, tem que aprender a viver com essa restrição. É muito triste ver casos de pessoas que resgatam fundo de previdência para pagar dívida”, diz.

Fonte: Estado de Minas

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