Pensar na aposentadoria apenas na hora de sair da ativa é um risco para o trabalhador. Por isso, mesmo em tempos de crise, acredite: é possível investir em previdência complementar com pouco dinheiro. Prova disso é que, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), hoje, há quase 13 milhões de contratos ativos do gênero para pessoas físicas e jurídicas. Mesmo com as dificuldades financeiras do país, os aportes nos planos tiveram alta de 26,06%, em novembro de 2016, frente ao mesmo mês do ano anterior.

— A orientação internacionalmente aceita é a de que a renda mensal, individual ou familiar, deve ser dividia em, no mínimo, três partes: uma para as despesas do mês, outra para o consumo de médio prazo, e a terceira para a aposentadoria — explicou Ivan Sant’ana, atuário da Atest Consultoria.

Quem quer se preparar para uma aposentadoria mais tranquila tem opções para complementar a renda. Além da poupança, aplicação mais conhecida pelos brasileiros, a previdência privada é a opção para quem quer evitar dor de cabeça na hora de se aposentar.

Nesta modalidade, o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) são as possibilidades de investimento. Os dois tipo de aplicação rendem mais do que a caderneta.

O PGBL é o plano recomendado para pessoas com renda mais alta, pois o montante pode ser abatido no Imposto de Renda (IR) — desde que esse valor represente até 12% da renda bruta anual. Quem investir no VGBL não pode descontar o valor da renda bruta no IR.

Preocupada, a publicitária Cláudia Mattioli, de 42 anos, investe para ela e os dois filhos.

— Estou atenta ao futuro dos meus filhos e à minha aposentadoria. Coloquei isso como prioridade e resolvi me planejar para investir.

Déficit do INSS é alerta para poupar mais

A necessidade de investir em previdência complementar é corroborada pelos déficits da Previdência Social e, principalmente, pela proposta de reforma, que deverá aumentar o tempo de contribuição do trabalhador para obter um benefício mais próximo do teto pago pelo INSS. O órgão, que atende os trabalhadores da iniciativa privada, registrou um déficit de R$ 149,73 bilhões em 2016.

A deficiência cada vez maior do benefício social alerta para os perigos de ficar desamparado na hora da aposentadoria, visto que, segundo a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida do brasileiro aumentou em 2015 e chegou a 75,5 anos — o que deverá criar problemas para o governo manter cada vez mais idosos vivendo por mais tempo no país.

Marcus Marinho, gerente de Produtos e Inteligência de Mercado da Mongeral Aegon, explica que os investimentos em previdência privada podem ser contratados em qualquer idade, desde que com boa antecedência em relação à previsão de aposentadoria.

— A composição da reserva de um plano de previdência é um cálculo matemático de juros compostos. Isso quer dizer que, quanto antes você começar a contribuir, por mais tempo o dinheiro vai render, mesmo que o cliente tenha que interromper o pagamento.

Gabriel Ventura, de 28 anos, começou a investir com R$ 100 e hoje já poupa R$ 300 por mês
Gabriel Ventura, de 28 anos, começou a investir com R$ 100 e hoje já poupa R$ 300 por mês Foto: Márcio Alves

‘Hoje já consigo separar R$ 300 para aplicar’, diz o economista Gabriel ventura, de 28 anos

“Comecei a investir em previdência privada em outubro de 2013, aplicando R$ 100 por mês. No início, apesar de meu intuito ser guardar dinheiro para meu casamento e minha lua de mel, sabia que continuaria a investir, para ter uma renda garantida no futuro, para além do INSS. Com o passar dos anos, fui aumentando gradualmente o valor que destino à previdência complementar. Hoje, consigo separar R$ 300 da minha renda para a aplicação. A grande vantagem, no meu caso, é que o valor é descontado diretamente do meu contracheque. Então, não preciso me preocupar em guardar o valor”.

Fique por dentro

PGBL

Se o rendimento mensal for de R$ 4 mil, por exemplo, e o investimento no plano for de R$ 200, é possível declarar para a Receita Federal uma renda de R$ 3.800, deduzindo parte do valor na declaração completa de Imposto de Renda (com limite de 12%). Porém, quando o dinheiro é sacado, o imposto pago é referente ao total que havia no fundo. Se esse valor for de R$ 500 mil, o imposto será cobrado sobre o total.

VGBL

Se a quantia acumulada no plano for de R$ 500 mil, mas o rendimento que houve ao longo do investimento foi de R$ 200 mil, a tributação será referente apenas ao que a aplicação rendeu. Este plano é indicado para quem tem renda mensal menor e opta pelo formulário simplificado de declaração anual de IR.

Investimentos

Para especialistas no assunto, o percentual de investidores em previdência privada ainda é considerado baixo. Eles chamam a atenção para os milhares de brasileiros que perderão entre 40% e 50% de seus rendimentos por ocasião da aposentadoria concedida pela Previdência Social, justamente no momento em que se demandará maior vitalidade financeira. Essas perdas poderiam ser evitadas com um maior planejamento no início da vida profissional..

Educação financeira

No entanto, para Felipe Bottino, superintendente de produtos de Previdência da Icatu Seguros, o brasileiro tem, a cada dia, percebido a importância de investir pensando no futuro. Além disso, segundo ele, cada vez mais trabalhadores estão deixando de aplicar na caderneta, que rende pouco, migrando para fundos de previdência que garantirão uma renda vitalícia, em especial nas classes média e baixa. “O importante é democratizar o acesso a bons investimentos. É preciso deixar claro que é possível investir pouco. Pior do que poupar pouco, é não poupar nada”.

 Fonte: Extra | Globo
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